Cicatriz discreta em abdome | DR. LUIS CLAUDIO BARBOSA

Quais os fatores que interferem para uma melhor cicatrização?

O que é a cicatrização?

A cicatrização surge na tentativa de reparar os tecidos lesados, pois o organismo humano não tem a capacidade de restaurar os tecidos que têm sua integridade violada, seja por um trauma ou por uma cirurgia.

Dessa forma, é criado um tecido fibroso de características diferentes do tecido normal, denominado de “cicatriz”. Já a “cicatrização” é o nome dado a esse processo, em que ocorre o reparo tecidual, substituindo o tecido lesado por um tecido novo.

Quais os fatores que influenciam na cicatrização?

Diversos fatores podem interferir e prejudicar o processo de cicatrização. É o caso, por exemplo, de:

  • Fatores locais (na própria ferida): presença de infecção; a técnica de sutura utilizada; a tensão nos bordos; a deficiência na vascularização na região da ferida e histórico de radioterapia.
  • Fatores sistêmicos (ligados ao indivíduo): fatores nutricionais, como a carência de proteínas, vitamina A, vitamina C e Ferro; presença de doenças associadas, como diabetes e doenças autoimunes; uso de medicamentos, como corticoides e imunossupressores, e o tabagismo.

Quais são os tipos de cicatrização?

  • Cicatrização por primeira intenção: ocorre quando as bordas da ferida são unidas após pouco tempo, como, por exemplo, na sutura. Nessa modalidade a cicatrização costuma ser mais rápida e a cicatriz mais fina.
  • Cicatrização por segunda intenção: ocorre quando a ferida é mantida aberta, sem reaproximação de suas bordas. É utilizada geralmente em feridas muito contaminadas.

Quais são as fases da cicatrização?

O processo de cicatrização tem como objetivo levar ao fechamento da ferida em um menor tempo possível. Ele pode ser dividido em três fases, que são sobrepostas:

– A primeira fase é conhecida como fase inflamatória, com duração média de 2 a 3 dias e é caracterizada pelos sinais de inflamação: dor, calor, rubor (vermelhidão) e edema (inchaço). O processo inflamatório é proporcional ao tamanho do dano causado ao tecido.

– A segunda fase da cicatrização é a fase proliferativa, que dura de 12 a 14 dias e é caracterizada pela produção de colágeno pelos fibroblastos (fibroplastia) e restauração da pele (reepitelização). Nessa fase a ferida se encontra bastante avermelhada. O novo tecido formado pelos fibroblastos recebe o nome de tecido de granulação, tem um aspecto granuloso e avermelhado, e geralmente só é visualizado nos casos em que a ferida cicatriza de dentro para fora.

– A terceira e última fase da cicatrização é a remodelação. Essa fase tem a duração indeterminada, podendo durar anos, e se caracteriza pela reorganização do colágeno. Nessa fase a cicatriz adquire uma coloração mais próxima à da pele normal.

Quais são os distúrbios que podem ocorrer na cicatrização?

Algumas pessoas possuem um processo anormal de cicatrização, com o crescimento exagerado do tecido cicatricial. Isso só costuma aparecer depois de um tempo após a realização da cirurgia, ocasionando a formação de cicatrizes hipertróficas e quelóides. É comum, nesses casos, o aparecimento de sintomas como dor e prurido (coceira) nas cicatrizes.

As cicatrizes hipertróficas são elevadas e avermelhadas, mas limitadas à região da cicatriz. Já os quelóides são maiores, mais rígidos e ultrapassam o limite inicial da cicatriz. Em ambas as patologias, o tratamento que costuma ser indicado é a compressão, o uso de silicone e a aplicação de corticóide local, por adesivos ou com injeção intralesional.

Muito se questiona a respeito do surgimento de cicatrizes hipertróficas e quelóides, porém, ainda que existam fatores que influenciem no aparecimento dessas patologias (por exemplo, raça, hereditariedade, idade e fatores locais), é sempre difícil prevê-las antes da cirurgia.

Além das cicatrizes hipertróficas e dos quelóides, também podem ocorrer outros distúrbios na cicatrização, como é o caso dos transtornos de pigmentação na cicatriz, seja pela falta de pigmentação (hipopigmentação) ou pelo aumento da pigmentação (hiperpigmentação).

A hiperpigmentação costuma ser o transtorno mais comum, sendo o fator principal de seu aparecimento a exposição precoce ao sol. Por isso, recomendamos evitar o sol por até 6 meses após a cirurgia e o uso de protetores solares.

O que eu devo fazer para melhorar a minha cicatrização?

É de extrema importância conversar bastante com o seu cirurgião, tanto no período pré-operatório como no pós-operatório. Assim, é preciso que não haja a omissão do paciente de nenhuma informação relevante, no tocante ao histórico de doenças, medicamentos utilizados e cirurgias realizadas.

Isso ocorre porque algumas circunstâncias podem ser identificadas e corrigidas antes da realização da cirurgia. É o caso da anemia, da carência de ferro ou de outros nutrientes. Do mesmo modo, certas doenças podem ser melhor controladas, como a pressão alta e a diabetes. Recomendamos, por exemplo, que o tabagismo seja interrompido por, pelo menos, 90 dias antes da cirurgia.

Depois da cirurgia, outro fator que influencia e muito em uma melhor recuperação é seguir corretamente as recomendações que são dadas pela equipe, especialmente às relacionadas ao repouso e à alimentação. No que se refere aos distúrbios da cicatrização, como é o caso cicatriz hipertrófica, quando iniciado seu tratamento tão logo sejam identificados, são maiores as chances de melhores resultados.

Por isso, é extremamente importante contar com um cirurgião especializado em cirurgia plástica estética e reparadora. Seu histórico pode fazer toda a diferença e ele saberá dar todas as dicas para uma cirurgia tranquila e um pós-cirúrgico menos incômodo.

Luís Cláudio Abrahão Barbosa
Cirurgião Plástico, especialista em cirurgia plástica estética e reparadora no Rio de Janeiro
CRM 52.84276-1
RQE 21.288